William Lilly
Meu amigo, quem quer que sejas, que com tanta facilidade receberás o benefício dos meus duros estudos, e que pretendes prosseguir neste celestial conhecimento das estrelas, nas quais os grandes e admiráveis trabalhos do invisível e todo glorioso Deus são tão manifestamente aparentes.
Em primeiro lugar, considera e admira o teu Criador, e sê-lhe grato, sê humilde, e não deixes que qualquer conhecimento natural, não importando quão profundo ou transcendente, deslumbre a tua mente a ponto de a fazer negligenciar aquela Divina Providência, a cuja omnipresente ordem e determinação todas as coisas, celestiais e terrenas, devem o seu constante movimento; mas quanto mais o teu conhecimento for aumentado, mais deves engrandecer o poder e a sabedoria de Deus Todo Poderoso, e esforçar-te por preservar os seus favores, sabendo que quanto mais pio fores e mais próximo de Deus estiveres, mais puro será o julgamento que darás.
Acautela-te contra com o orgulho e a presunção, e lembra-te que há muito que nenhuma criatura irracional se atreve a ofender o homem, o microcosmo, antes o servindo e lhe obedecendo fielmente desde que ele se mantenha senhor da sua própria razão e das suas paixões, ou até que ele submeta a sua vontade à sua parte irracional. Mas, quando a iniquidade abunda e o homem entrega as rédeas aos seus próprios afec«tos, e desiste da razão, então todos os animais, criaturas e coisas evidentemente nefastas, se tornam rebeldes e desobedientes ao seu comando.
Sê fiel, Oh homem! ao teu Deus e aos princípios correc«tos, depois considera a tua própria nobreza e como todas as coisas criadas, tanto presentes como futuras, foram criadas por tua causa; por tua causa, Deus tornou-se homem; tu és essa criatura que, tendo conhecido Cristo, vive e reina acima dos céus, e se senta acima de todo o poder e autoridade. Com quantas preeminência, privilégios, vantagens te abençoou Deus? Tu estás acima dos céus através da contemplação, concebes o movimento e a magnitude das estrelas; tu falas com os anjos, até com o próprio Deus; tu tens todas as criaturas sob o teu domínio, e manténs os demônios em sujeição. Não desfigures a tua natureza, nem te tornes indigno de tais dons, nem te prives de tão grande poder, glória e bênçãos que Deus te atribuiu, afastando-te do seu temor, a troco da posse de alguns prazeres imperfeitos. Tendo considerado o teu Deus, e o que tu próprio és, enquanto fores servo de Deus, recebe agora instrução em como na tua prática gostaria que te comportasses.
No teu contato diário com os céus, instrui e forma a tua mente de acordo com a imagem da Divindade; aprende todos os ornamentos da virtude e sê suficientemente instruído nela; sê humano, educado, afável para com todos, de fácil acesso, não aflijas os miseráveis com o terror de um julgamento severo; nesses casos, dá-lhes a conhecer o seu duro destino gradualmente; diz-lhes que peçam a Deus que afaste os julgamentos que se aproximam; sê modesto, convivendo com homens sábios, educados e sóbrios, não ambiciones um patrimônio; dá gratuitamente aos pobres, tanto dinheiro como julgamento; não deixes que nenhuma riqueza terrena provoque em ti um julgamento errado, ou tal que desonre a arte ou esta divina ciência. Ama homens bons, estima aqueles homens honestos que sinceramente estudam esta arte.
Sê frugal ao dar julgamento contra o Estado em que vives.
Não dês julgamento sobre a morte do teu príncipe; eu sei contudo por experiência que "reges subjacent legibus stellarum".
Casa com uma mulher tua, alegra-te com o número dos teus amigos, evita a lei e a controvérsia; no teu estudo, sê "totus in illis" de forma que possas ser "singulus in arte"; não sejas extravagante ou desejoso de aprender todas as ciências, não sejas "aliquat in omnibus"; sê fiel, tenaz, não traindo os segredos de ninguém; não, ordeno-te, nunca divulgues a confiança em ti depositada por amigos ou inimigos.
Ensina todos os homens a viver bem, sê tu próprio um bom exemplo, evita as modas da época, ama a tua pátria natal; não repreendas nenhum homem, não, nem um inimigo; não te desapontes se falarem mal de ti, "conscientia mille testes"; Deus não deixa nenhum pecado sem castigo, nem nenhuma mentira sem vingança.
WILLIAM LILLY